1 Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia-UFRGS, Brasil, 2 Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UNISINOS, Brasil.
Comunidades quilombolas vivem, geralmente, em situações de isolamento geográfico e desigualdades sociais e de saúde. O objetivo do presente estudo foi identificar as prevalências de insegurança alimentar, sobrepeso e acesso a programas de combate a fome nessas populações. Em 2014/15 foi realizado estudo de cluster não-randomizado intitulado “Educação Alimentar em comunidades quilombolas do sul do Brasil: Resgate da cultura alimentar, promoção da alimentação saudável e do direito humano a alimentação”, desenvolvido em quatro comunidades quilombolas (Algodão, Passo do Lorenço, Serrinha do Cristal e Nova Palma). O presente trabalho refere-se a achados da linha de base do estudo, incluindo variáveis sócio demográficas (sexo, renda, escolaridade), antropométricas (peso, altura), de insegurança alimentar e de acesso aos programas de combate à fome do governo brasileiro (bolsa família e programa de aquisição de alimentos-PAA). O sobrepeso foi definido como IMC >= a 25Kg/m2 e a insegurança alimentar moderada e grave, segundo escala brasileira de insegurança alimentar (EBIA). Foram entrevistados 178 responsáveis pelos domicílios. Grande parte (69,7%), era do sexo feminino, de cor preta (62.4%), tinha de zero a quatro anos de escolaridade (88,8%) e 18% relatou renda per capita mensal inferior a R$77,00 (< $ 30,00). Um total de 66,9% indivíduos apresentava sobrepeso. A insegurança alimentar moderada e grave esteve presente em 69,7% dos domicílios. Nenhuma família participava do Programa de Aquisição de Alimentos e 28.1% nunca tinha ouvido falar do PAA. Aproximadamente 58.2% das famílias participava do programa bolsa família. Constatou-se grande vulnerabilidade social. As prevalências de sobrepeso e insegurança alimentar observadas, foram bem maiores que aquelas encontradas na literatura. As famílias quilombolas, prioritárias aos programas governamentais de combate à fome, estão tendo acesso limitado a essas políticas públicas. Medidas que promovam a exigibilidade ao Direito Humano a Alimentação Adequada e o acesso a uma alimentação saudável são urgentes e necessárias.