Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil
Pretende se desenvolver uma reflexão sobre as práticas alimentares contemporâneas no Brasil a partir de uma perspectiva sociocultural. Para tanto, em um primeiro momento, considera-se o contexto das mudanças no perfil epidemiológico da população brasileira no qual o Ministério da Saúde aponta que, em 2012, quase a metade dos brasileiros estão acima do peso com cerca de 15,8% de obesos; e das ações empreendidas de saúde, alimentação e nutrição relacionadas com o controle do peso corporal promovendo a estratégia de emagrecimento dos corpos como forma de promover a saúde se constituindo em um enfrentamento político, estando envolvidas organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde - OMS, as políticas governamentais, organizações não governamentais, a mídia, associações e grupos. No Brasil, nas últimas décadas, o Ministério da Saúde produziu três documentos-base que se constituem em referência de promoção de práticas alimentares saudáveis, no escopo de políticas mais amplas de promoção da saúde: a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) em 1999; em 2005 foi lançado o Guia Alimentar para a População Brasileira, constituindo-se as primeiras diretrizes alimentares oficiais para a população, com uma nova versão publicada em 2014; e, ainda em 2005, o Ministério da Saúde definiu a Agenda de Compromissos pela Saúde, a qual está pautada em três eixos de ação, quais sejam: o Pacto em Defesa do Sistema Único de Saúde, o Pacto em Defesa da Vida e o Pacto de Gestão. O segundo Pacto assume compromissos sanitários a serem conduzidos por todas as esferas do governo, no qual se insere a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), instituida em 2006, contando com a promoção de hábitos saudáveis de alimentação como uma das ações mais privilegiadas. Conjuntamente, elas se referem a estratégias combinadas que traçam diretrizes e responsabilidades com vistas a reduzir o impacto da alimentação não saudável na ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis, as quais figuram em primeira posição no perfil de morbi-mortalidade tanto em países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento. Em um segundo momento, destaca-se a relevância dos aspectos socioculturais da alimentação nas últimas décadas e como tal dimensão está presente nos principais documentos normativos das políticas de alimentação e nutrição do país, assim como no cotidiano dos sujeitos seja através da popularização da gastronomia ao lado da emergência das culturas alimentares tradicionais, seja através da penetração do estilo de vida saudável no qual o comer saudável é um dos sustentáculos ou ainda na compreensão dos sistemas alimentares sustentáveis no qual os alimentos orgânicos, por exemplo, emergem neste plano. Aqui, ressalta-se o Novo Guia Alimentar para a População Brasileira em 2014, que aponta para questões referentes ao ato de comer como um ato sociocultural, pondo em tela novas questões para as práticas alimentares para além do modelo biomédiconutricional. Em um segundo momento, versará sobre como os sujeitos os sujeitos experimentam as práticas alimentares frente a tais fenômenos, considerando as suas características multifacetadas e imbricadas com fenômenos como a urbanidade, modernidade, patrimônio, produção alimentar sustentável dentre outros fazendo do ato de comer também um ato politico. Espera-se contribuir para a ampliação da compreensão das práticas corporais e alimentares contemporâneas, considerando-as como fundamentais para o entendimento dos fenômenos de saúde a elas associados, a exemplo da obesidade e da promoção da alimentação saudável. Referências. Amparo-Santos, Ligia. Saúde, práticas corporais e obesidade na cultura contemporânea. In: Nascimento, Marilene Cabral do; Nogueira, Maria Inês (orgs). Intercâmbio solidário de saberes em saúde: racionalidades médicas e práticas integrativas complementares. São Paulo: Hucitec, 2013. P. 171-190. Amparo-Santos, Ligia; Soares, Micheli Dantas. Challenges of academic and scientific output in the interface between Social and Human Sciences and Food and Nutrition Sciences. Rev Nutr Campinas 2015; 28(1):89-98. Azevedo, E. Alimentação saudável: uma construção histórica. Revista Simbiótica 2014; (7). Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014a. 151p. Gracia-Arnaiz, M. Comemos lo que somos: reflexiones sobre cuerpo, gênero y salud. Barcelona, Icaria, 2015.